Senna, Miagui e a reconstrução dos efeitos visuais no Brasil: Uma nova era?
Era uma vez o cinema brasileiro. Ou melhor, a relação do público com os efeitos visuais por aqui. Um conto turbulento, recheado de quedas espetaculares, explosões que pareciam saídas de um videogame da década de 90 e criaturas digitais que nem tentavam parecer reais. Era um drama, às vezes uma comédia involuntária que formou a memória coletiva de um país acostumado a esperar pouco desse departamento nas produções nacionais. Mas agora, em 2024, um lampejo de esperança acende no túnel da computação gráfica: o estúdio Miagui e sua estreia em alto estilo com a minissérie Senna, da Netflix.
Porto Alegre, um pouco distante do burburinho dos grandes centros do audiovisual, tornou-se o palco dessa transformação. O Miagui, um estúdio de produção criativa com uma trajetória de 15 anos no mercado publicitário, resolveu se aventurar no território das grandes narrativas. Não foi qualquer desafio: reconstruíram, em CGI, o lendário GP de Mônaco, incluindo as icônicas corridas de Ayrton Senna em 1984 e 1988. Um trabalho de fôlego, que levou um ano inteiro e contou com 60 artistas, resultando na recriação detalhista de prédios, carros, pistas e até a chuva, personagem coadjuvante, mas crucial, na corrida de 1984.
A tarefa foi tão ambiciosa quanto arriscada. Afinal, reconstruir o circuito de Mônaco e seus arredores não é apenas uma questão técnica — é também um exercício histórico e emocional. O Miagui não apenas aceitou o desafio, mas entregou resultados que, segundo os primeiros rumores, impressionaram até os mais céticos.
O Brasil tem um longo histórico de tropeços em efeitos visuais. Filmes de ação que mais pareciam vídeos amadores, criaturas em 3D que geravam memes instantâneos e até novelas globais que erraram feio em sequências fantasiosas. Mas essa trajetória não é mais sinônimo de um futuro sombrio. Estúdios como o Miagui, o segmento de VFX no Brasil está se reestruturando, ganhando força e até, quem diria, respeito internacional.
Para o CEO do Miagui, Cássio Braga, a experiência com Senna é uma coroação de anos de trabalho e aprendizado. “Colaborar em um projeto como esse é uma validação não apenas da capacidade técnica do nosso time, mas do potencial do Brasil em competir no mercado global de VFX”, reflete.
A produção não só abriu as portas da Netflix para o estúdio, mas também reposicionou o Brasil no radar internacional, mostrando que podemos ir além das produções publicitárias de luxo e apostar em narrativas de grande escala. O trabalho em Senna não é apenas sobre computação gráfica; é sobre contar histórias, capturar emoções e reescrever a reputação de um país no campo dos efeitos visuais.
Se antes o público ria de explosões toscas e criaturas mal renderizadas, agora a aposta é no silêncio admirado diante de corridas digitalmente perfeitas e cenários que desafiam a realidade. A Miagui provou que, com investimento, talento e visão, o Brasil pode acelerar na pista global dos efeitos visuais. Ayrton Senna, que sempre fez mais do que o esperado em circuitos internacionais, teria aprovado essa ousadia. Afinal, vencer com estilo sempre foi a sua marca. E agora, parece que essa marca está chegando ao nosso audiovisual.
DATA E ELENCO
A aguardada estreia de Senna está marcada para o dia 29 de novembro na Netflix, prometendo emocionar tanto os fãs do automobilismo quanto os amantes de grandes histórias. A minissérie, composta por seis episódios, traz Gabriel Leone no papel do lendário Ayrton Senna, mergulhando não só em sua genialidade como piloto, mas também em sua vida pessoal e suas complexidades humanas.VEJA O TRAILER OFICIAL:
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