A interseção entre literatura e tecnologia: como os eBooks e o BookTok estão transformando o hábito de leitura

Nos últimos anos, a forma como lemos e consumimos literatura passou por uma revolução silenciosa, impulsionada por avanços tecnológicos e o poder das redes sociais. Dispositivos como o Kindle e plataformas como o TikTok, por meio da comunidade BookTok, estão redefinindo o mercado editorial e os hábitos de leitura em todo o mundo.



📱 A ascensão dos eBooks e leitores digitais

O Kindle, lançado pela Amazon em 2007, consolidou-se como o leitor digital mais popular globalmente. Com uma vasta biblioteca e recursos como dicionários integrados e ajustes de fonte, o Kindle oferece uma experiência de leitura personalizada. Outros dispositivos, como o Kobo e o Nook, também conquistaram seu espaço, atendendo a diferentes preferências dos leitores.

A praticidade dos eBooks que permitem armazenar milhares de títulos em um único dispositivo aliada à facilidade de aquisição instantânea, contribuiu para a popularização da leitura digital. Além disso, os eBooks geralmente apresentam preços mais acessíveis em comparação aos livros físicos, tornando a leitura mais democrática e ecológica.


📚 BookTok: a comunidade que revitalizou a leitura

O BookTok, subcomunidade do TikTok dedicada à literatura, emergiu como uma força influente no mercado editorial. Com vídeos curtos, emocionais e espontâneos, leitores compartilham resenhas, reações e recomendações, criando uma rede de engajamento que transcende fronteiras.

Em 2025, a hashtag #BookTok ultrapassou 370 bilhões de visualizações, com mais de 52 milhões de vídeos relacionados. Esse fenômeno impulsionou vendas significativas: em 2023, livros promovidos no BookTok geraram mais de US$ 700 milhões em vendas globais. Além disso, uma pesquisa revelou que 48% dos usuários do TikTok nos EUA e 53% no Canadá afirmaram ler mais devido à influência do BookTok.

Mais do que vender livros, o BookTok está cultivando uma geração de leitores mais jovens, emocionalmente conectados às histórias e engajados em debater literatura algo que parecia estar em declínio na era dos streamings e da informação rápida.


📖 O caso Colleen Hoover: quando os leitores ditam o ritmo

A autora Colleen Hoover é um dos maiores fenômenos do BookTok. Seu romance É Assim Que Acaba, publicado em 2016, ganhou notoriedade anos depois graças à comunidade do TikTok. Em 2022, Hoover vendeu 14,3 milhões de livros, um aumento de impressionantes 661% em relação ao ano anterior.

A pressão dos fãs foi tamanha que ela decidiu escrever a sequência, É Assim Que Começa, em resposta direta ao clamor popular.

“Os leitores estavam tão envolvidos com a história de Lily que senti a necessidade de continuar a narrativa para atender às expectativas deles”, declarou Hoover em entrevista à CBS.

O caso ilustra como os leitores, empoderados pelas redes sociais, passaram a influenciar diretamente os rumos da produção literária, criando um ciclo de feedback quase instantâneo entre autor e público.


🛍️ O impacto nas livrarias e no mercado editorial

O BookTok não apenas impulsionou autores como Hoover, mas também revitalizou livrarias físicas. A rede americana Barnes & Noble, por exemplo, anunciou a abertura de 60 novas lojas em 2025, atribuindo esse crescimento à força do TikTok e à busca dos leitores por espaços físicos onde possam encontrar os livros que viralizam online.

Editoras, por sua vez, estão reformulando suas estratégias de marketing: lançamentos agora consideram o potencial “booktokeável” de uma obra, influenciando desde a capa até o tom narrativo. Influenciadores literários, antes periféricos, tornaram-se peças-chave nesse novo tabuleiro.

A convergência entre literatura e tecnologia não apenas ampliou o acesso aos livros, como também reinventou a forma como nos relacionamos com eles. Os eBooks proporcionaram praticidade, acessibilidade e mobilidade. Plataformas como o Kindle e o Kobo permitiram que leitores carregassem verdadeiras bibliotecas no bolso, personalizando sua experiência e otimizando tempo e espaço.

Ao mesmo tempo, o advento das redes sociais, especialmente o TikTok com o fenômeno BookTok, devolveu à literatura algo que parecia perdido: o entusiasmo coletivo, o debate espontâneo, a comunidade. Em vez de isolar o leitor, a tecnologia está, paradoxalmente, reconectando-o a outros leitores.

Mais do que uma mudança de formato, estamos presenciando uma transformação cultural: o livro deixa de ser um objeto solitário para se tornar parte de uma conversa global. Autores como Colleen Hoover já perceberam isso. Leitores não querem apenas ler querem reagir, compartilhar, discutir, se ver representados e, muitas vezes, influenciar o futuro da história.

Num mundo cada vez mais digital, não é a leitura que está morrendo, como tantos previram. Ela está apenas mudando de pele e talvez se tornando mais viva e vibrante do que nunca.



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