Na era digital, contar histórias nunca foi tão estratégico — ou tão transformador. O termo “storytelling”, que há décadas habita o vocabulário do marketing, da publicidade e do jornalismo, assumiu um novo protagonismo com a ascensão das tecnologias digitais.
A prática de contar histórias, que já foi oral, depois impressa, e mais tarde audiovisual, hoje se reinventa em formatos interativos, imersivos e instantâneos.
Do “Era uma vez” ao “Swipe up para saber mais”
Com o avanço da internet, o storytelling deixou de ser apenas uma ferramenta narrativa para se tornar uma ponte de conexão entre marcas, criadores de conteúdo e públicos. Plataformas como Instagram, TikTok, YouTube e até mesmo podcasts transformaram a forma como histórias são produzidas, consumidas e compartilhadas. Não se trata apenas do o quê se conta, mas como e onde se conta.
Segundo especialistas em comunicação digital, a nova era do storytelling exige uma compreensão profunda das emoções humanas aliada ao domínio técnico das plataformas.
“O público atual quer mais do que informação; ele quer conexão, identificação e participação”, explica Fernanda Borges, pesquisadora em narrativas digitais da UFRJ.
Interatividade e personalização: as novas palavras-chave
Uma das grandes mudanças do storytelling digital é a interatividade. Ferramentas como enquetes, vídeos interativos, realidade aumentada e filtros personalizados permitem que o público não apenas consuma a história, mas também a influencie. É o caso das campanhas publicitárias baseadas em user generated content (conteúdo gerado pelo usuário), em que consumidores se tornam cocriadores de narrativas.
Além disso, algoritmos e inteligência artificial tornaram possível personalizar histórias de acordo com o perfil de cada usuário.
Plataformas de streaming, como a Netflix, já exploraram formatos de narrativas interativas, como em “Black Mirror: Bandersnatch”, onde o espectador escolhe o rumo da história.
O jornalismo e a narrativa transmídia
O jornalismo também encontrou no storytelling digital uma nova linguagem para informar. Reportagens multimídia, que combinam texto, vídeo, infográficos animados e mapas interativos, passaram a ser ferramentas essenciais na cobertura de temas complexos.
Veículos como The New York Times e El País investem cada vez mais em formatos transmídia, onde a informação se desdobra em diversas plataformas, oferecendo ao leitor uma experiência mais rica e contextualizada.
No Brasil, projetos como o Repórter Brasil e o Agência Pública têm se destacado ao usar o storytelling para abordar questões sociais e ambientais, com recursos visuais e narrativos que engajam e sensibilizam o público.
O poder da narrativa no mercado e na educação
Empresas, ONGs e instituições educacionais também têm apostado no storytelling como ferramenta de engajamento. No marketing digital, contar boas histórias é essencial para criar vínculos emocionais com consumidores e fortalecer a identidade de marca.
Já na educação, narrativas digitais vêm sendo usadas para facilitar o aprendizado, principalmente entre crianças e adolescentes que cresceram imersos na tecnologia.
“O storytelling digital não é apenas sobre tecnologia. É sobre humanidade. Contar histórias é uma das formas mais antigas de ensinar, de inspirar e de transformar realidades”, afirma a escritora e educadora Ana Paula Silva.
Como construir um bom storytelling na era digital?
Um bom storytelling começa com clareza de propósito: o que você quer comunicar e por quê? A seguir, é preciso definir o público-alvo e escolher o canal adequado (redes sociais, vídeo, podcast, blog, etc.).
A estrutura clássica — começo, meio e fim — ainda funciona, mas precisa ser adaptada ao ritmo e ao formato de cada plataforma. Um exemplo é o vídeo viral de uma marca de cosméticos que contou a história real de uma cliente com câncer que, ao perder os cabelos, reencontrou a autoestima com a ajuda de maquiagens.
A campanha viralizou porque seguiu três pilares essenciais do bom storytelling: personagem autêntico, conflito emocional e transformação clara.
Para quem deseja começar, a dica é: busque histórias reais, humanize seus personagens, mostre vulnerabilidades e feche com uma mensagem que inspire ou provoque reflexão. Emoção e verdade ainda são as maiores potências narrativas — mesmo em tempos digitais.
O futuro do storytelling: IA, metaverso e além
Com o avanço da inteligência artificial, do metaverso e das narrativas imersivas, o futuro do storytelling promete ser ainda mais surpreendente. Ferramentas de IA já são capazes de criar roteiros, gerar personagens e adaptar histórias em tempo real conforme as reações do público.
No metaverso, espera-se que o storytelling ganhe uma nova dimensão: a da presença. O espectador poderá viver a história em primeira pessoa, interagindo com ambientes e personagens como se estivesse dentro de um jogo — ou de um sonho compartilhado.
Ainda que as tecnologias mudem, a essência do storytelling continua a mesma: criar pontes entre pessoas, ideias e sentimentos. E, neste novo mundo digital, quem souber contar boas histórias continuará tendo um poder imenso nas mãos.
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