Realidade aumentada e música — A nova fronteira das experiências sonoras


No quadro Terça Musical desta semana, mergulhamos em uma revolução sensorial que está transformando a indústria fonográfica: a realidade aumentada (AR). De shows em hologramas na sala de casa a clipes interativos em 3D no celular, a música agora extrapola os limites da audição e se funde com o espaço ao nosso redor.


Mas, se por um lado essa revolução parece algo recente, suas raízes estão mais próximas do que imaginamos. Um dos marcos mais importantes desse movimento nasceu ainda no início dos anos 2000, com a criação de uma banda virtual que desafiou todos os formatos tradicionais da indústria musical: Gorillaz.


🎸 Gorillaz: a banda que antecipou o futuro

Criada em 1998 por Damon Albarn e Jamie Hewlett, Gorillaz surgiu como uma banda fictícia composta por avatares animados, muito antes de o conceito de “metaverso” ou “realidade aumentada” ganhar espaço no vocabulário da tecnologia.

No início dos anos 2000, a banda já explorava projeções em shows, clipes animados em 2D e experiências visuais integradas à música, antecipando o conceito de performances não presenciais e avatares interativos. Em 2006, o grupo chegou a fazer um show com projeções holográficas em tempo real no Grammy, tocando ao lado de Madonna — um feito tecnológico à frente do seu tempo.


Embora não fosse AR no formato que conhecemos hoje, a ideia de criar uma camada visual e interativa sobre a experiência musical real pavimentou o caminho para o que vivemos agora com a realidade aumentada. Gorillaz pode ser considerado um dos projetos mais visionários da história da música moderna, colocando o virtual no centro da criação artística.


📊 A consolidação da AR no mercado musical

Hoje, a realidade aumentada avança com velocidade e força. De acordo com o relatório Global Augmented Reality Market Forecast (2024–2030) da Fortune Business Insights, o mercado global de AR deve crescer de US$ 25,33 bilhões em 2024 para US$ 110,64 bilhões até 2030, com uma taxa de crescimento anual de 27,3%.


No universo musical, 67% dos jovens entre 16 e 24 anos, segundo a MIDiA Research, buscam experiências imersivas — algo que já é possível graças a filtros, shows interativos e lançamentos gamificados.


Já a PwC projeta que as receitas globais com música imersiva, incluindo AR e VR, devem saltar de US$ 2,6 bilhões em 2023 para mais de US$ 7 bilhões em 2027.


🎤 Do palco físico ao palco aumentado

Diversos artistas seguem a trilha aberta por projetos como Gorillaz, agora com ferramentas mais avançadas. A cantora Alicia Keys, em 2022, lançou um show em realidade aumentada com a Snap, permitindo que fãs a visualizassem holograficamente em qualquer espaço.


O rapper Travis Scott, com sua performance no Fortnite, também redefiniu o conceito de palco: sua apresentação virtual atraiu 27,7 milhões de espectadores únicos. Embora esse evento se aproxime mais da realidade virtual, ele serviu de inspiração para experiências híbridas onde a AR agora é protagonista.


Plataformas como Stageverse e WaveXR têm criado palcos digitais com integração em 360º, avatares interativos e ambientes totalmente customizáveis para artistas. O show em realidade aumentada da banda Muse, promovido pela Stageverse, é um exemplo de como as performances musicais estão se reinventando.

📱 Filtros, clipes vivos e fandom imersivo

Com filtros em redes sociais, artistas têm se aproximado ainda mais dos fãs. Billie Eilish, por exemplo, lançou filtros em AR com avatares animados para promover seu álbum Happier Than Ever. O BTS, por sua vez, criou experiências em AR com a Samsung, onde os fãs podiam visualizar os membros da banda dançando em seus próprios ambientes.


Dados da Statista mostram que mais de 1 bilhão de pessoas usaram ferramentas de AR em redes sociais em 2023, e 38% disseram que o principal motivo foi entretenimento, especialmente ligado à música.


🎬 Clipes, capas e álbuns vivos

Bandas como Coldplay também estão usando AR para transformar clipes em experiências interativas. Em Higher Power, a banda criou um universo digital que os fãs podiam explorar com o celular, incluindo elementos visuais flutuantes e personagens alienígenas que respondiam ao toque.


No Brasil, a startup Youse AR criou o aplicativo Aria, que permite que capas de discos se tornem portais para conteúdos extras em AR — desde vídeos e bastidores até jogos e interações com o artista. Campanhas com esse recurso aumentaram em até 72% o engajamento do público.


👓 A tecnologia que aproxima

O lançamento de dispositivos como os óculos Ray-Ban Meta Smart Glasses e o Apple Vision Pro promete levar as experiências de AR a um novo nível. A IDC estima que o consumo de conteúdo imersivo musical deve crescer mais de 50% até 2028, impulsionado por essas novas tecnologias de uso cotidiano.


Plataformas como Spotify e Apple Music também já testam a integração com elementos em realidade aumentada para visualizações de álbuns e experiências exclusivas.

🌐 Conclusão

A realidade aumentada está transformando a música em algo que se vê, se toca e se vivencia — uma jornada que começou com projetos como Gorillaz, passou por experiências holográficas inovadoras, e agora chega às mãos do público global com cada vez mais potência.


A música, agora, não é mais apenas ouvida. Ela acontece à nossa volta. E o mais empolgante? Estamos apenas no começo.


(Fontes: Fortune Business Insights, MIDiA Research, PwC, Statista, IDC, Snap Inc., Meta, Stageverse, WaveXR, Youse AR, Spotify, Apple, Grammy Archives).


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