Do Negroni ao Mojito — histórias por trás de bebidas icônicas
Do aristocrata italiano que pediu “algo mais forte” ao marinheiro que combatia o escorbuto com rum e hortelã, as receitas que hoje animam bares em todos os cantos do planeta começaram suas jornadas em mesas bem específicas.
Prepare o copo: a viagem é longa e embriagante.
Negroni: o coquetel criado por um conde cansado de suavidade
Florença, 1919. O conde Camillo Negroni, figura excêntrica da alta sociedade italiana, decidiu que o Americano — drink à base de Campari, vermute doce e água com gás — não era forte o suficiente. Pediu ao bartender Fosco Scarselli, no Caffè Casoni, que trocasse a água com gás por gim.
O resultado agradou tanto que virou moda entre os frequentadores. Nascia o Negroni, hoje sinônimo de elegância e amargor bem equilibrado.
Curiosidade: Na década de 1950, um dos descendentes do conde fundou a Negroni Distillerie, para comercializar uma versão engarrafada do coquetel.
Mojito: da medicina improvisada ao símbolo do verão
Antes de ser servido em taças geladas à beira-mar, o Mojito era uma solução prática para um problema de saúde. No século XVI, piratas e marinheiros espanhóis sofriam com doenças tropicais e falta de vitamina C.
Para combatê-las, misturavam aguardente de cana, limão, hortelã e açúcar — ingredientes locais e acessíveis em Cuba. O coquetel evoluiu com o tempo, ganhando rum em vez de aguardente e refinamento nos bares de Havana.
Fidel Castro preferia whisky, mas o Mojito ganhou fama mundial graças a Ernest Hemingway, que o imortalizou com a frase: “My mojito in La Bodeguita, my daiquiri in El Floridita”.
Old Fashioned: o drink que deu origem à palavra “cocktail”
Se há um avô dos coquetéis, ele atende por Old Fashioned. Criado no início do século XIX, em Louisville, Kentucky, a bebida era uma simples mistura de uísque, açúcar, água e bíter. A receita era tão “à moda antiga” que acabou nomeando o próprio drink.
Durante a Lei Seca nos EUA (1920–1933), o Old Fashioned sobreviveu nos clubes privados e casas clandestinas, mantendo viva a tradição do coquetel artesanal em tempos de proibição.
Curiosidade: É um dos drinks favoritos de Don Draper, protagonista da série Mad Men, símbolo da sofisticação retrô.
Caipirinha: da farmácia colonial à embaixadora do Brasil
Pouca gente sabe, mas a caipirinha surgiu como remédio caseiro. No interior de São Paulo, no início do século XX, a população preparava uma mistura de limão, mel, alho e cachaça para tratar gripes e resfriados. A bebida foi ganhando adaptações — primeiro o alho saiu, depois o mel virou açúcar.
O que restou foi um coquetel simples, refrescante e nacional.
Em 2003, a caipirinha foi oficialmente reconhecida como patrimônio da cultura brasileira pelo Itamaraty, tornando-se presença garantida em eventos diplomáticos mundo afora.
Bloody Mary: um mistério que ainda dá ressaca
Tomate no coquetel? Pode parecer estranho, mas o Bloody Mary é hoje um clássico dos brunches mundo afora. Sua origem é disputada. Uma das versões mais aceitas aponta para o bartender francês Fernand Petiot, que misturou suco de tomate e vodka nos anos 1920, no bar Harry’s New York em Paris, criando uma bebida “revigorante”.
O nome? Uma referência controversa à Rainha Maria I da Inglaterra, conhecida por perseguir protestantes — e ganhar o apelido sangrento.
Curiosidade: O Bloody Mary é cercado de superstições. Reza a lenda que, se você repetir “Bloody Mary” três vezes na frente do espelho, ela aparece. Mas é melhor tentar com um copo na mão.
Brindando com história
Cada drink carrega mais que álcool: carrega personagens, contextos, geografias e sabores de outra época. Servidos hoje como parte de uma cultura globalizada de bares, esses coquetéis nos lembram que até a bebida mais comum pode ter uma origem extraordinária — seja nos salões da aristocracia florentina, nos porões da pirataria caribenha ou nas boticas do interior brasileiro.
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Na próxima Quinta da Garrafa, mais histórias e goles bem servidos. Até lá, saúde — e moderação!
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✍️ Texto: Paulo Garcia | 📅 Publicado em 29 de maio de 2025
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