A doutora Louise Banks, linguista renomada, é conduzida ao interior da nave alienígena. Ao adentrar o espaço, a gravidade se inverte, e ela se vê flutuando em um ambiente desconhecido. Diante de uma parede translúcida, surgem os heptápodes, criaturas de sete membros, cuja aparência lembra a de polvos gigantes. Eles se comunicam emitindo símbolos circulares no ar, uma linguagem visual complexa e não linear. Louise, munida de uma lousa, inicia um diálogo silencioso, escrevendo "HUMANO" enquanto aponta para si mesma. Os heptápodes respondem com um novo símbolo, dando início a uma troca que transcende palavras e desafia a compreensão humana do tempo e da linguagem.
Essa cena do filme A Chegada encapsula a essência do primeiro contato: o desconhecido, o desafio da comunicação e a necessidade de empatia. Assim como Louise, agora nos deparamos com sinais que podem indicar a existência de vida além da Terra.
Recentemente, cientistas da Universidade de Cambridge, utilizando o telescópio James Webb, detectaram moléculas como dimetil sulfeto (DMS) e dimetil dissulfeto (DMDS) na atmosfera do exoplaneta K2-18b, localizado a 124 anos-luz de distância. Na Terra, essas substâncias são produzidas exclusivamente por organismos vivos, como fitoplânctons e bactérias marinhas. A presença dessas moléculas em concentrações significativamente maiores do que as encontradas aqui levanta a possibilidade de um ambiente repleto de vida microscópica.
Embora a detecção tenha uma confiabilidade de 99,7%, ainda não é suficiente para confirmar a existência de vida extraterrestre. No entanto, a ausência de amônia na atmosfera sugere a presença de um oceano, e o planeta, duas vezes e meia maior que a Terra, continua a intrigar os cientistas.A ironia está no contraste. Esperávamos uma nave sobre a Times Square. Esperávamos tentáculos, olhos negros, lasers. Mas a resposta — se vier — será mais parecida com um sussurro do que com um espetáculo. Será molecular, estatística, científica. A ficção previu isso melhor do que pensávamos.
Assim como em A Chegada, onde a comunicação com os heptápodes exige uma compreensão profunda e uma mudança de perspectiva, a interpretação desses sinais químicos requer cautela e abertura para o desconhecido. Estamos diante de um momento em que a ciência e a imaginação se encontram, desafiando-nos a reconsiderar nosso lugar no universo.
Talvez o primeiro contato não seja como nos filmes de ação, com naves espaciais e mensagens claras, mas sim um sussurro químico vindo de um planeta distante. E, como Louise, devemos estar preparados para escutar, compreender e, acima de tudo, respeitar o que não conhecemos.
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