Live-action de “Enrolados” é interrompido após má repercussão de “Branca de Neve”

O desenvolvimento do live-action de “Enrolados” foi oficialmente interrompido. A informação, publicada pela respeitada The Hollywood Reporter, caiu como um balde de água fria nos fãs da princesa Rapunzel e, ao mesmo tempo, como um espelho incômodo para os estúdios Disney: a fórmula que um dia brilhou nos cofres pode ter perdido o encanto. O motivo do freio? O retumbante fracasso de bilheteria e críticas de “Branca de Neve”, outro clássico revisitado que, desta vez, não despertou o “felizes para sempre”.

Estamos vivendo a saturação dos live-actions? A pergunta ressoa com força — como o eco de um feitiço que foi lançado vezes demais.

Nos últimos dez anos, a Disney mergulhou de cabeça numa onda nostálgica, transpondo suas animações mais queridas para versões com atores reais. Houve acertos comerciais, como “A Bela e a Fera” (2017), que uniu efeitos vistosos e carisma de Emma Watson, e “O Rei Leão” (2019), que mesmo sem atores humanos, apostou no realismo para faturar bilhões. Mas também vieram tropeços: “Pinóquio”, “Peter Pan & Wendy”, “A Pequena Sereia” — obras que dividiram opiniões, empacaram em bilheterias e enfrentaram debates acalorados sobre diversidade, adaptação e fidelidade ao original.

A verdade é que o espelho mágico já não responde com tanta certeza quando a Disney pergunta quem é a mais lucrativa do reino.

Enrolados, lançado em 2010, foi um marco da nova era da animação do estúdio. Com um roteiro ágil, humor na medida e uma protagonista de espírito livre, era forte candidata para a “próxima da fila”. Mas o contexto mudou. As plateias amadureceram, a estética da nostalgia perdeu vigor, e a reinvenção dos clássicos começou a parecer apenas requentada — como um banquete servido pela quinta vez.

A aposta no “realismo” virou um paradoxo: ao tentar tornar palpável a magia, muitos desses filmes perderam justamente o que os tornava mágicos. E o público percebe. Mais exigente, menos disposto a pagar caro por algo que já viu antes, mesmo que com outro filtro.

Branca de Neve, pioneira em 1937, tropeçou ao tentar ser moderna demais e ao mesmo tempo refém do passado. Uma história que não se encontrou entre discursos de empoderamento e a herança de uma princesa que dorme até ser salva. Resultado: críticas pesadas, trailers mal recebidos e um silêncio desconfortável no cinema. O reflexo disso? O cancelamento de projetos como Enrolados, numa reação em cadeia.

É possível que o problema não seja a ideia de recontar histórias, mas como elas são recontadas. Quando a reinvenção se pauta apenas em tecnologia e nostalgia, sem coração ou ousadia, o resultado é plástico. Sem vida. E o público — esse velho conhecido da Disney — está dizendo que não basta mais jogar os dados do passado no tabuleiro do presente.

Talvez seja hora de a Disney ouvir sua própria canção: “Quando a minha vida vai começar?” Talvez a resposta esteja em criar o novo, não apenas reviver o antigo.

Enquanto isso, Rapunzel volta para a torre. Mas não por muito tempo, espera-se. Afinal, personagens com brilho próprio merecem sair das sombras do passado e encontrar uma nova forma de iluminar as telas — com histórias que se arriscam, que falam do agora, que encantam de verdade.

E não apenas porque um algoritmo previu que isso daria certo.


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