A história de Lucas começa como a de tantos outros que se veem reféns da própria agenda. Ele acordou às 7h da manhã neste domingo ensolarado, abriu o notebook e ficou encarando a tela em branco. Tinha prometido a si mesmo escrever dois capítulos do romance que sonhava publicar ainda este ano. Mas, entre um gole de café e o outro, não saiu uma linha sequer. Frustrado, passou o resto do dia se culpando. Como se o simples ato de descansar fosse um pecado capital num mundo que valoriza tanto o fazer, e tão pouco o ser.
Hoje é domingo de Páscoa, véspera de um feriado prolongado. As ruas estão mais silenciosas, o cheiro de chocolate ainda paira no ar, e o tempo parece desacelerar — como um convite gentil à pausa. E talvez seja esse o momento ideal para refletirmos: por que insistimos em associar valor à produtividade contínua, como se o ócio fosse inimigo da criatividade?
“A mente precisa de repouso para criar”, afirma o neurocientista David Eagleman, pesquisador da Universidade Stanford. “Ideias novas frequentemente surgem quando estamos longe do trabalho, durante uma caminhada, um banho quente ou uma tarde de descanso.” É o que ele chama de “momento Eureka”: aquele lampejo de genialidade que raramente acontece quando estamos sob pressão.
A sociedade moderna, no entanto, ainda prega a cartilha do desempenho. Produzir virou sinônimo de valor pessoal — e essa lógica, quando levada ao extremo, cobra um preço alto: ansiedade, burnout, bloqueios criativos e até problemas físicos.
A escritora Elizabeth Gilbert, autora de Comer, Rezar, Amar, defende que a criatividade tem seus próprios ritmos. “Ela não é uma torneira que você abre e fecha à vontade. Às vezes, tudo que ela precisa é de silêncio e tempo.”
Permitir-se não fazer nada por um dia pode parecer subversivo, mas é, na verdade, um ato de equilíbrio. O descanso não é apenas necessário; é parte do processo criativo. É no intervalo entre um pensamento e outro que muitas ideias encontram espaço para florescer.
Então, se hoje você não produziu nada, tudo bem. Você não é menos valioso por isso. Talvez sua mente esteja apenas preparando o terreno para uma nova ideia. Como na natureza, a criatividade também tem estações — e nenhuma semente germina sem antes repousar sob a terra.
A pausa também é parte da obra.
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