Imagine a seguinte cena: um brasileiro tentando assistir a um vídeo no YouTube para aprender a fritar um ovo sem estourar a gema. Roda, roda, roda… e trava. Enquanto isso, na China, um cidadão de Xiong’an já baixou toda a trilogia de "Matrix" em 4K, atualizou o firmware do carro autônomo, fez uma consulta médica por holograma e ainda pediu um yakisoba por comando de voz. Tudo isso antes do brasileiro conseguir derreter a manteiga na frigideira.
É, meus amigos, estamos oficialmente vivendo o paradoxo do Wi-Fi. Enquanto mais de 20 milhões de brasileiros ainda não têm acesso à internet em casa, a China ligou a chave da primeira rede de banda larga 10G do planeta. Dez. Gigas. Por. Segundo. Isso significa, em termos técnicos e emocionais, que você pode baixar um filme de 20GB em menos de 20 segundos. Isso se você estiver em Xiong’an — a cidade que parece saída de um filme de ficção científica, mas onde quase ninguém mora. Literalmente: um playground digital fantasma.
E aí eu me pergunto: estamos mais perto de viver como em "Her", onde o cara se apaixona pela inteligência artificial do celular, ou como em "WALL-E", com humanos obesos flutuando em cadeiras reclináveis, terceirizando a vida para robôs?
A promessa da internet 10G não é apenas maratonar séries em velocidade Velozes e Furiosos 27. Ela representa avanços importantes em áreas como telemedicina, carros autônomos, cidades inteligentes — aquelas onde o semáforo conversa com o hospital e avisa que vem um paciente gripado atravessando a rua. Mas, como toda tecnologia, ela é uma faca Ginsu de dois gumes: enquanto alguns estão quase teletransportando dados, outros ainda brigam com o roteador que insiste em piscar vermelho.
A reflexão aqui não é só sobre tecnologia, mas sobre humanidade. Estamos ficando mais ágeis, práticos, conectados — e, quem sabe, mais solitários, impacientes, ansiosos. O tempo que economizamos no download talvez estejamos perdendo na convivência. O clique ficou fácil, mas o contato humano… nem tanto.
Enquanto isso, no Brasil, seguimos naquele cenário típico: criança fazendo dever de casa no Wi-Fi do mercadinho ou do vizinho, gente na fila do banco porque o aplicativo não carrega e o meme do "minha internet caiu" sendo mais relevante do que qualquer plano nacional de conectividade. Porque aqui, quando não é o cabo que falha é a promessa.
No fim das contas, a pergunta não é quando teremos 10G no Brasil, mas quem vai estar pronto para ele quando chegar? E, mais importante: a gente vai usar para evoluir… ou só para baixar vídeo de gatinho mais rápido?
A resposta talvez não esteja no futuro, mas na forma como a gente lida com o presente. Se o seu Wi-Fi travar agora, aproveite. Vai ver é um sinal do universo para conversar com alguém ao vivo. Olha que inovação.
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